Companhia da Polícia Militar (Guararema, SP)
, 2022
Conjunto Urbano Companhia da PM, Fórum Municipal (e Secretaria da Educação)
O desafio disparador deste projeto é a coexistência de programas públicos tão distintos num mesmo recinto urbano. A Avenida Antonio Teixeira Muniz movimenta-se para se consolidar como um importante eixo urbanizado de acesso ao centro de Guararema, num processo reafirmado pela implantação do parque da cidade e do horto e potencializado pelos demais lotes com grande potencial de transformação em médio prazo. A vocação da Avenida como eixo de lazer e práticas esportivas é também um dado importante, que instiga a solução urbanística adotada no sentido da criação de um espaço público cívico de apoio a esta condição interessantíssima.
É desse contexto que parte a solução de partido do projeto: a criação de um sistema de taludes vegetados que constroem as frentes – protegidas – dos novos edifícios voltados para a Avenida. Como toda boa solução arquitetônica, ela responde simultaneamente a algumas demandas: a) estabelece uma linguagem única na criação da paisagem junto à avenida e seu canteiro vegetado, funcionando como extensão visual do corredor de lazer utilizado por pedestres ciclistas; b) substitui de maneira mais interessante gradis e muros exigidos pela própria natureza dos programas, garantindo as necessárias condições de isolamento; c) oferece uma alternativa para a equação de movimentação de terra, necessária pela condição de implantação do programa do estande de tiros, semienterrado e das demais intervenções no terreno.
Esta nova frente, uniforme, estabelece um embasamento tectônico para o conjunto, a partir da manipulação do terreno para abrigar os programas mais restritos. Este bloco, com esta condição, justifica-se enquanto construção mais mineral: concreto e/ou blocos de concreto são utilizados para as contenções, lajes e demais peças estruturais deste volume térreo.
Como contrapartida poética, a linguagem dos blocos que não têm essa condição de embasamento assume um caminho oposto, com estrutura em peças pré-fabricadas de aço, possibilitando para a grande maioria da construção um processo mecanizado de construção. Em síntese: um conjunto em concreto e terra (taludes) constroem os corpos horizontais térreos, ajustando o terreno e criando as condições adequadas de acesso e controle; um segundo conjunto em aço, distribui os programas complementares em pavimento superior.
Esta macro solução é adotada para os dois prédios projetados, e sugere-se que também para o terceiro elemento – a Secretaria de Educação – que toma o espaço central do terreno. A implantação do conjunto assume a existência destes três elementos, e negocia a existência autônoma de cada um deles com áreas e dispositivos urbanos que podem (e devem) ser compartilhados).
A Companhia da Polícia Militar, dos três edifícios, é o que tem um funcionamento mais apartado, pela natureza de sua utilização. Não é um polo importante de atração de visitantes, e demanda condições adequadas de possíveis assaltos armados. Estas condições justificam a escolha de sua implantação no extremo leste do terreno, uma parcela triangular cujo lado maior é voltado para o limite do terreno paralelo à servidão do gasoduto da Petrobrás. Junto a esta linha, foi proposta uma nova rua – preferencialmente municipal, para evitar constrangimentos ao funcionamento futuro – que garante o acesso de veículos da avenida em direção ao interior do terreno, garantindo o acesso aos demais edifícios e às áreas de estacionamento. Esta rua volta a encontrar a avenida no vazio criado entre o Fórum e a Secretaria, como descrito mais adiante.
O edifício da Companhia está organizado em três setores, correspondentes a três blocos funcionais distintos. O primeiro está associado à solução de embasamento, limitado por um talude – que o protege de eventuais ataques, inclusive – junto à Avenida; organizados por uma circulação linear, distribuem-se a sequência de salas de trabalho. O segundo volume, erguido um pavimento acima com estrutura em aço, abriga o conjunto de alojamentos, num bloco implantado de maneira transversal ao primeiro; no ponto de entroncamento dos dois volumes, a circulação vertical dá conta de garantir o necessário isolamento entre os programas.
O terceiro bloco é ocupado pelo estande de tiro, um salão com 30m de profundidade, implantado em um nível inferior. Note-se que a solução de implantação faz com que este volume esteja um pouco aflorado do nível dos programas do trabalho, facilitando o acesso de visitantes ao estante, ao mesmo tempo em que garante o isolamento das áreas mais restritas. Esta mesma equação permite que visitantes possam fazer uso do estante, do refeitório e da sala de reuniões e aulas sem interferência com a circulação de uso cotidiano de trabalho.
O terreno da antiga indústria de peças de aço é hoje ocupado por galpões semidemolidos, e deve ser completamente liberado para a implantação do novo complexo. Serão estudadas, oportunamente, alternativas para a reutilização do entulho produzido na própria obra, como complemento de material nas movimentações de corte e aterro.