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Memorial às Vitimas da Boate Kiss (Concurso)
, 2018

A arquitetura como construir portas, 
de abrir; ou como construir o aberto;
construir, não como ilhar e prender,
nem construir como fechar secretos;
construir portas abertas, em portas;
casas exclusivamente portas e tecto.
O arquiteto: o que abre para o homem 
(tudo se sanearia desde casas abertas)
portas por-onde, jamais portas-contra;
por onde, livres: ar luz razão certa.

João Cabral de Melo Neto

 

 

A porta que não fecha; o teto que não cobre.

O memorial é passagem, convite à lembrança e à reflexão; espaço ostensivamente aberto, ofertado à cidade num canto de cidade que quer se esconder. A calçada se abre em praça e neste ponto surge uma sequência de pórticos, 16 altos metros de madeira: portas abertas, arquitetura exclusivamente porta e tecto. 12 pórticos, 23 vigas transversas: 242 janelas para o céu, 242 oportunidades de o sol chegar ao chão e imprimir com luz a lembrança mais forte daquele lugar. 

O salão da memória é vertical, opaco, com janelas contínuas à altura do olhar e paredes altas de exposição que obrigam o movimento do pescoço: o olhar pra cima de quem procura o que já não está. A luz, mais uma vez, entra controlada e destaca a loja-púlpito que enxerga do alto todo o salão.

O dia-a-dia desenha o segundo nível, inferior. Salas e auditório organizam-se sob a praça, abertos a um pátio interno garantido pelo desnível do terreno. Outro programa, outro caráter, outra materialidade: o conjunto pedra, embasa com o peso do cotidiano a vivência etérea que se espera para o memorial acima dele.